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Octávio Alves: liderança em um Brasil desigual e a importância das soft skills

Octávio Alves analisa o futuro do RH em um Brasil desigual e destaca soft skills, cultura e inclusão como diferenciais competitivos até 2026.

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Lukas Letieres

HR Consultant

Octávio Alves: liderança em um Brasil desigual e a importância das soft skills

17 de outubro, 2025


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O debate sobre o futuro do trabalho costuma girar em torno de tecnologia, inteligência artificial e automação. Mas, para Octávio Alves, executivo C-Level, professor de MBA e LinkedIn Top Voice em Carreira & Liderança, há um fator ainda mais urgente no Brasil: a desigualdade.

Em um país marcado por formações desiguais, repertórios limitados e oportunidades concentradas, as empresas precisam lidar com times naturalmente heterogêneos, e é aí que a liderança se prova.

Com mais de duas décadas de experiência à frente de equipes complexas, Octávio defende que o diferencial competitivo dos próximos anos não estará apenas nos algoritmos, mas na capacidade dos líderes de formar talentos, cultivar soft skills e criar vínculos de confiança.

Em entrevista exclusiva à Sesame HR, ele compartilhou suas reflexões sobre o que significa liderar em um cenário de transformação acelerada, mas também de lacunas estruturais profundas.

Talentos raros: formar ou disputar?

Entre tantos temas, a escassez de talentos, para Octávio, segue como um dos maiores dilemas das empresas brasileiras. Ele explica que não basta disputar profissionais de alta performance no mercado, é preciso desenvolver os próprios diamantes dentro de casa:

“Os talentos são escassos, são raros. Eu posso até pagar salários altos e disputar à tapa com outras empresas, mas esse é um jogo que não escala. O caminho mais sustentável é formar talentos. Mesmo que não sejam nota 10, se alguém faz muito bem aquilo a que se propõe, para mim isso já é talento. A missão da liderança é lapidar essas pessoas para que floresçam e ajudem a organização.”

O desafio de liderar equipes heterogêneas

De acordo com Octávio, a pluralidade de perfis é cada vez mais comum e, ao mesmo tempo, inevitável no mercado brasileiro. Equipes compostas por profissionais de diferentes origens, formações e repertórios trazem riqueza de perspectivas, mas também aumentam a complexidade da gestão.

“Só um time diverso consegue compreender uma situação de forma ampla, com ângulos e visões diferentes. Isso é desejável, mas traz um desafio enorme: como fazer todos colaborarem, se sentirem pertencentes e trabalharem em conjunto?”, provoca.

Para ele, a chave está nos relacionamentos. É o vínculo humano que transforma diversidade em coesão, que gera confiança e que permite ao líder lapidar talentos de forma contínua. “Conhecer cada pessoa da equipe, perceber seus pontos fortes e os pontos a melhorar, e usar isso para lapidar diamantes brutos: esse é o verdadeiro trabalho de formar talentos”, completa Octávio.

Importância das Soft skills: o verdadeiro diferencial competitivo

Se o conhecimento técnico pode ser aprendido em poucas semanas, as competências comportamentais exigem anos de dedicação e prática. Para Octávio, dar a devida importância às soft skills é a fronteira que separa profissionais competentes de líderes transformadores.

“É muito mais fácil aprender Excel do que aprender a escutar de verdade. Inteligência emocional, empatia, paciência e comunicação são as competências que vão sustentar a performance no futuro. Quando processos rotineiros forem automatizados, o que sobrará para os humanos será justamente a capacidade de se relacionar, cooperar e criar.”

Estudos recentes reforçam esse alerta. Um relatório do World Economic Forum projeta que, até 2027, 6 das 10 competências mais valorizadas no mercado estarão diretamente ligadas a habilidades humanas, como pensamento crítico, criatividade, colaboração e adaptabilidade.

Em um cenário em que a tecnologia entrega dados em segundos, será a sensibilidade do gestor em interpretar sinais sutis de engajamento ou desgaste que fará diferença nos resultados.

Na prática, isso significa que empresas que investirem em desenvolver soft skills, tanto em líderes quanto em equipes, estarão mais preparadas para reter talentos, inovar e sustentar uma cultura organizacional saudável.

Afinal, algoritmos calculam, mas são as pessoas que criam pertencimento e dão vida às estratégias.

Tecnologia como parceira da liderança

Para Octávio, tecnologia e liderança caminham juntas. O líder contemporâneo precisa usar ferramentas digitais não só para aumentar a eficiência, mas também para potencializar pontos fortes e corrigir fragilidades:

“Somos cada vez mais cobrados a fazer mais rápido e mais barato. A tecnologia nos ajuda nisso, mas também pode apoiar nosso autodesenvolvimento. O líder do futuro terá que aprender a conduzir não apenas pessoas, mas também máquinas. Liderar equipes híbridas, compostas por humanos e inteligência artificial, será uma realidade em 10 ou 15 anos.

Cultura: liderança pautada em exemplo

Em cenários de mudança e incerteza, a cultura organizacional deixa de ser um conceito abstrato e passa a ser ferramenta de sobrevivência. Mais do que políticas escritas, ela se traduz no comportamento diário das lideranças. Para Octávio, é o líder quem dá o tom, pelo exemplo, não pelo discurso.

“A cultura é escrita todos os dias. Em um mundo acelerado e instável, a comunicação frequente e transparente é essencial. Precisamos dizer o que sabemos, mas também o que ainda não sabemos. Isso gera serenidade. E junto com a comunicação vem a vulnerabilidade: admitir que também temos medos e inseguranças conecta líderes e equipes. Ninguém quer ser liderado por um super-herói. Querem alguém humano, capaz de inspirar confiança mesmo sem todas as respostas.”

A fala reforça um movimento observado em pesquisas globais: culturas fortes não se sustentam em manuais de conduta, mas na coerência entre o que líderes fazem e o que dizem.

Empresas que cultivam chefias inacessíveis ou comunicação hierárquica demais tendem a perder agilidade justamente quando mais precisam dela.

No contexto do futuro do trabalho, a vulnerabilidade passa a ser vista não como fraqueza, mas como marca de confiança.

Admitir limites, pedir ajuda e valorizar contribuições individuais gera pertencimento e aumenta a resiliência organizacional. Assim, a liderança pelo exemplo deixa de ser uma escolha de estilo e se torna uma exigência estratégica para empresas que querem atravessar períodos de incerteza com coesão.

Diversidade que floresce: o papel do líder na inclusão real

Mais do que reconhecer a importância de equipes plurais, Octávio defende que a diversidade só gera impacto quando acompanhada de inclusão prática. E esse processo começa pelo líder:

“O líder precisa ter plena consciência de que diversidade de pensamento é fundamental para os resultados. Mas não basta trazer perfis diferentes: é preciso oferecer meios para que todos tenham liberdade de se comunicar, criticar e trazer novas perspectivas.”


Ele alerta que muitas vezes o RH atrai talentos, mas o líder não cria a segurança psicológica necessária para que essas pessoas se expressem. O resultado é desperdício de potencial, segundo ele: “Não adianta contratar diversidade se o ambiente não permite que ela floresça. O papel do líder é garantir esse espaço de inclusão real, em que todos possam se colocar sem medo.”

O futuro imediato: IA como alavanca de resultados

Embora muito se fale em inteligência artificial de forma abstrata, Octávio traz o debate para o chão de fábrica da gestão. Para ele, o desafio não é temer a IA, mas aprender a usá-la como aliada:

“O grande ponto é entender como a inteligência artificial pode potencializar nossos resultados. Não se trata apenas de ferramentas generativas, mas de um ecossistema muito mais amplo. Cada líder precisa descobrir de que maneira a tecnologia pode amplificar seus pontos fortes e apoiar suas fragilidades. Esse é o mar que ainda não navegamos, mas é inevitável que chegue rápido.”

A liderança que o Brasil precisa

A visão de Octávio é clara: o futuro do trabalho no Brasil não pode ser pensado apenas em termos tecnológicos, mas precisa considerar o contexto desigual em que vivemos. Liderar equipes heterogêneas exige mais do que processos, exige sensibilidade, comunicação e coragem para formar talentos dentro de casa.


Para ele, a liderança que vai vencer em 2026 será aquela que aceita a diversidade como dado de realidade, nivela por cima com desenvolvimento intencional e usa a tecnologia para liberar tempo. Tempo que deve ser reinvestido em pessoas, cultura e execução disciplinada.

👉 Esse artigo faz parte da série especial da Sesame HR, reunindo os principais especialistas e influenciadores que marcaram presença no CONARH 2025.

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Tiago Santos

VP of Community and Growth | LinkedIn | | Web | +post

Profissional experiente de RH dedicado a promover comunidades colaborativas fortes de líderes de RH. Como fundador do RH Club e da HR Community, uso meus mais de 15 anos de experiência para melhorar as perspectivas de carreira dos líderes de RH.

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